(Histórias do Anchieta)
Concluí o ensino médio no Colégio Padre Anchieta de 1.995 a 1.997.
No último ano éramos, claro, uma turma em constante ebulição. Mas um aluno em especial se destacava.
O Maximiliano, que chamávamos apenas de Max, era um rapaz querido na turma. Engraçado, descolado, boa pinta e estiloso. Ao mesmo tempo, tinha dificuldades de concentração e sua notas não eram boas.
A inspetora de alunos, uma senhora muito simpática que sabia ser brava como ninguém, tratava bem o Max e às vezes fazia vista grossa quando ele chegava atrasado ou era pego cochilando no pátio em horário de aula…
O maior defeito do Max era o de fugir. Respondia “presente professor”, dava um tempo e sumia. E a inspetora, os professores, a diretora, todo mundo pegava no pé dele por causa disso. Ele já estava por um fio. A gente avisou que se ele sumisse mais uma vez, a inspetora chamaria sua mãe. E foi aí que a mais bizarra história envolvendo nossa turma aconteceu.
A entrada do Colégio se dava pela rua com pouco movimento. A entrada principal era pela Avenida Celso Garcia, mas devido ao fluxo de carros e pessoas, essa entrada foi desativada, permanecendo sempre fechada. As grades de ferro dessa entrada são provavelmente as mesmas da época da fundação do colégio.
O Max foi até essas grades, como sempre fazia, para pular. A inspetora, de gatinho, na ponta dos pés, o seguiu e o pegou no flagra já montado encima do muro e das grades. E nós lá da janela observávamos tudo. O que era pra ser uma pegada boa na orelha dele, virou uma disputa de força. A inspetora grudada nos seus pés o puxava para o lado de cá. Ele querendo se mostrar tinhoso, fazia o esforço pro lado de lá.
Foram uns minutos de gritaria e torcida nas janelas. Até que a batalha teve um desfecho não muito diplomático. A doce senhorinha que havia perdido totalmente a paciência, se encontrava com um par de tênis nas mãos. Já do outro lado da Avenida, pela Rua Hipódromo ía o Max por entre os inúmeros transeuntes, com ar de vitorioso e apenas de meias.
Dias depois soubemos que sua mãe viera ao colégio retirar as provas do seu crime: Um par de tênis que lhe rendeu um par de orelhas a serem puxadas até o final do ano letivo.
Vitória da doce senhorinha que nos aturava com tanta paciência.
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Colégio Padre Anchieta – A antiga Escola Normal do Brás, tradicional estabelecimento de ensino, instalado em 1913, iniciou suas atividades como escola exclusivamente feminina, confirmando a tendência que caracterizou os cursos normais de São Paulo desde a sua origem. O prédio, projetado em 1911 por Manuel Sabater do Departamento de Obras Públicas, tem capacidade para vinte salas de aulas, divididas em dois pavimentos mais um porão utilizável. Os acessos ao interior do estabelecimento localizam-se nas fachadas laterais, solução também adotada por Sabater em outras escolas. Estilisticamente, o edifício insere-se no contexto eclético que caracterizou as escolas paulistas do início do período republicano. Este mesmo projeto, com algumas alterações na fachada, foi utilizado para a construção do Grupo Escolar Cesário Bastos na cidade de Santos. Fonte: Processo de Tombamento. Fonte: São Paulo – E. E. Padre Anchieta -ipatrimônio (ipatrimonio.org)
Oi Viviane, que alegria te encontrar e ler teus textos que dizem e trazem tanto. A história do Max trouxe-me meus tempos de ginásio e situação semelhante: pulei o muro do colégio mas do outro lado me esperava o diretor. Nem preciso dizer que a suspensão e castigo foram longos. Um grande abraço e cuide-se muito.💐☮️
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Oi Fernando! Vi seu blog, está super bonito, colorido de fotos e bilíngue! Além do sofisticado gosto musical. O menino que fugia da escola se tornou um ser humano de muita sensibilidade e percepção.
Fiquei aqui imaginando o tremendo susto que tomou ao dar de cara com o diretor kkkk
Um grande abraço!
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Foi mesmo…ter 15 anos e fugir do colégio em um sábado de manhã era tudo o que eu mais queria. Aconteceu de o diretor estar do outro lado. Depois de receber a suspensão, conversamos e rimos muito afinal ele ficou surpreso qdo disse para onde pretendia ir: a biblioteca pública. Lembro sempre desse e de outras situações que aprontei. E muito obrigado pelas palavras ao Chronos. Fico feliz por te reencontrar e por ter teu talento e sensibilidade por aqui de novo. Abraço carinhoso e cuide-se muito.
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Então, essas coisas de cabular aula pra ir buscar letras de músicas, buscar o “jornal da praça” que eu colecionava (um dos colégios que estudei tinha uma banca de jornal que distribuía um jornalzinho local, da Praça Silvio Romero Tatuapé-SP, o tal jornal da praça, cheio de poesia, histórias e claro, anúncios do bairro). Cabular aula pra devolver livro/ pegar livro na biblioteca ou pior, ficar sentada no portão da escola, na deprê, ouvindo música até a pilha do walkman acabar… jovem tem é um buraco no lugar do cérebro né. (risos)
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Olha…eu devorava livros na biblioteca e me envolvi com os músicos da época em Porto Alegre e que vieram a criar a música popular gaúcha. Vi nascer Os Almôndegas, Kleiton & Kledir entre outros. Foi nesse tempo que decidi meu rumo na vida. É uma longa história….
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Puxa, que legal! Então, sinal de que conseguimos preencher o buraco em nossos cérebros com coisas boas. E você com certeza foi um privilegiado. Não escreveu ainda sobre essa história?
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Acho que o que está no blog reflete está história, como olho o mundo, a vida, as viagens, a música, a literatura….mas, em forma de livro nunca pensei, o máximo que tentei foi da vez que fui a Machu Picchu e não consegui. Foi muito intenso. Um dia quem sabe…
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Eu aqui falando como se fosse uma história a ser contada essa fase que citou de acompanhar músicos, bandas se formando. Deve dar é um livro inteiro… Um dia. Seu blog é riquíssimo e só pode vir de alguém que vive intensamente e tem mesmo muita história pra contar. Vou acompanhar os próximos capítulos 😉 Valeu pela conversa Fernando! Grande abraço
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