(Histórias do Anchieta)

Concluí o ensino médio no Colégio Padre Anchieta de 1.995 a 1.997. Aquela construção juntamente com as pessoas que a faziam funcionar como escola, exalavam história. Memórias que eram transmitidas nos intervalos aos ouvintes tímidos e atentos como eu.

Lembro-me do cansaço que sentia ao estudar das 7:00 às 12:30. Era desgastante para todos e muito mais para aqueles que faziam praticamente uma viagem até a escola todos os dias…

Certa semana teve um burburinho de que certas salas, corredores, alas, que estavam interditadas no colégio, seriam abertas para uso. Dito feito, mataríamos nossa curiosidade de saber como eram aqueles lugares que não tínhamos acesso antes.

Teríamos duas novas salas para frequentar, uma para as aulas de química e biologia. A outra para as aulas de física.

Quando pela primeira vez, tivemos acesso ao corredor e à sala de física, foi um choque para nós. As carteiras eram diferentes, eram muito antigas. Os materiais de apoio ao professor estavam muito empoeirados e eram também muito velhos e diferentes.

Mas, a sala era deslumbrante. Era como voltar no tempo. O teto alto, as portas em madeira maciça, colunas em madeira destacavam as paredes, janelas largas, chão de madeira, piso bonito antigo…

A aula começou e o professor que não era carismático apesar de ser gente boa, não conseguiu prender minha atenção. Eu fiquei ali, encantada com a sala… olhando os detalhes. Sempre gostei de sentar bem na frente, perto dos professores. E da carteira que escolhi pra sentar fiquei observando cada detalhe da sala.

Quando baixei o rosto para ver a lição, percebi que na carteira tinha um talhado mal feito, desses que os bobos e bobas apaixonados fazem, em forma de coração. “Ana e Júlio”. A Ana e o Júlio não me chamariam atenção.

Mas, foi o miudinho que talharam logo após os seus nomes que me fez encher os olhos de lágrimas em pensar estar sentada no mesmo lugar em que inúmeras histórias foram vividas: Dentro do coraçãozinho de Ana e Júlio, logo abaixo, miudinho, estava talhado 1.978. Nesse momento eu percebi o quanto eu era sortuda em estudar em um colégio tão velho, tão empoeirado e tão rico.

__________________________________

Colégio Padre Anchieta – A antiga Escola Normal do Brás, tradicional estabelecimento de ensino, instalado em 1913, iniciou suas atividades como escola exclusivamente feminina, confirmando a tendência que caracterizou os cursos normais de São Paulo desde a sua origem. O prédio, projetado em 1911 por Manuel Sabater do Departamento de Obras Públicas, tem capacidade para vinte salas de aulas, divididas em dois pavimentos mais um porão utilizável. Os acessos ao interior do estabelecimento localizam-se nas fachadas laterais, solução também adotada por Sabater em outras escolas. Estilisticamente, o edifício insere-se no contexto eclético que caracterizou as escolas paulistas do início do período republicano. Este mesmo projeto, com algumas alterações na fachada, foi utilizado para a construção do Grupo Escolar Cesário Bastos na cidade de Santos. Fonte: Processo de Tombamento. Fonte: São Paulo – E. E. Padre Anchieta -ipatrimônio (ipatrimonio.org)