Ali estava ela, iluminada pelos raios da manhã. Alva como o sol que a iluminava. As ondas de leve a traziam para a beira. Uma estrelinha branca que alcançou a praia pela primeira vez.

Mas, dentro da casa, um vazio. Vazio dos filhos que se foram para nunca mais. A casa era fúnebre, destas que cheiram à morte. Aquela velha senhora, rude, cruel, na tentativa de contar uma mentira, enfeitava as paredes com fotos do seu passado. Imagens de todos os santos. Havia também, o fingimento de fartura, ostentação inútil para os olhos dos vizinhos, sobre a geladeira, em todas as datas, os ovos de páscoa, o panetone ou as flores compradas.

Vez em quando, a dedo, escolhia o produto mais barato de seu armário, para fazer uma doação. Não se engane, esta velha rude afastava friamente aquilo que já não mais lhe servia. Seu gato adoeceu e sem muito pensar, foi abandonado doente, bem distante da casa, para que não transmitisse a doença da qual agonizava. Morreu estribuchando, este sim, na solidão e abandono.

São os enfeites que valiam àquele ser impossível de se identificar como humano. Neste dia, pela manhã, rindo, abriu a sacola e retirou ainda suja de areia, sua mais nova conquista.

Não encontrou nenhuma constelação oceânica, a estrelinha. Foi pendurada, com suas entranhas inteiras, na parede da casa, quem sabe, ainda viva.