Na pracinha, um senhor puxa conversa. Jornal aberto, diz pra mim que o mundo desmantela o ser – carros se espatifam, obras despencam, gente se acabando por coisinhas bestas, fáceis de endireitar. Que não basta o fedegoso, carrapicho esculhambando tua plantação.

Minha filha, uma palavra torta já vão tocar a bomba, danou-se. Adubou erva-daninha. Não se tem motivo pra esganar tuas plantas, só desculpas.

Enquanto ele silenciou virando a página, matutei que todas as verdades mudam o tempo todo.

Ele respirou fundo e budejou pra si mesmo que todos esses desconjuntáveis surgem pequeninos, frágeis e escorados. Que poucos arrebentam as escoras e que raros crescem.

Respirei fundo, como quem voltou do mergulho e faltou o ar. Olhei em seus olhos de quem lê notícia de ontem e lhe disse que quando minha luz se apagar de vez, espero estar bem comigo mesma.

Ele fechou o jornal, deu um risinho malandro e disse que quando sua luz apagar de vez, não terá mais medo do escuro.