Fechadura é o nome dado àquela que guarda de forma quase implacável os segredos e tesouros. Fechadura dureza obstinada. Que ofício intransigente esse: ou é ou não. Seu serviço quer parecer belicoso, mas, tem meio termo: aberta, fechada e entreaberta. Num gesto disfarçado de desmazelo, joga a isca, pesca o peixe. A tinhosa, finge lacre e deixa a brecha, o buraco, a tentação. O elo minúsculo de ligação entre dois mundos, o de lá e o de cá. Urtiga que nos pega, pra curiar.
E, tem nada não, quando fechadura escancara, afrouxa, assentam logo a tranqueta, a corrente, o cadeado. Parentes do mesmo zelo.
Muito me admiro mesmo é daqueles parafusinhos que giraram uma única vez na madeira e acreditam piamente que a vida se encerra ali, com a cabeça enterrada. Alguns se rebelam, saltam e vão girar em outras freguesias.
Mas, a mais notável resignação, desprendimento incalculável, santificante, só percebo nas dobradiças. Uma vida inteira se inclinando, se rendendo, se submetendo às forças rudes ou cuidadosas. É, como se ela, a dobradiça, não existisse. As forças passam e alcançam o mundo de lá. Diferentemente dos parafusos, as dobradiças se mantêm firmes até o final de sua vida útil. A depender dos parafusos que não possuem juízo algum. Dobradiças enferrujadas, rabugentas, razinzas, rangem feito cortes sem anestesia, feridas abertas – dor. Mas, basta um pouco de lubrificante, que ficam como novas.
O bom mesmo seria se o mundo não precisasse de portas.
Boa noite minha cara, que texto mais delicioso esse seu… sou editora da revista artesanal Plural e gostaria de ter suas linhas em minhas páginas. O que me diz? A próxima edição sairá em março de 2016…
Fico no aguardo de tua resposta.
Abracos
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Sim Lunna, será um prazer!
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